5.27.2009

Perda

Bruno dirigia numa velocidade muito superior a devida naquela via. Seu coração batia acelerado, e as palvras ecoavam em seu cérebro, a música feria seu peito. Era uma dor física, uma dor espiritual. Não conseguia acreditar nas palavras que tinha acabado de ouvir.

Eles se amavam, ele o amava, sabia que era amado, e porque mudar de repente? Muitas dúvidas cruzavam sua mente.

O que aconteceu? O que fiz de errado? Porque isso está acontecendo? Existe outro alguém? O que eu faço para mudar?Ligo pra ele? Porque isso está acontecendo?

Chorava copiosamente, sua visão já se tornara embaçada. Via o sorriso à sua frente. O sorriso! Amava aquele sorriso mais que qualquer obra de arte. Soluçava. Não podia se conter.

"... O nosso amor não vai parar de rolar, de fingir e seguir como um rio..."

75Km/h

"
...como uma pedra que divide o rio, me diga coisas bonitas..."

80Km/h

Estou confuso Bruno, não sei o que está acontecendo com a gente.

90Km/h

".
..o nosso amor não vai olhar para trás, desencantar nem ser tema de livro, a vida inteira eu quis um verso simples pra transformar o que eu digo..."

110Km/h

Eu acho que a gente é... incompatível... às vezes penso isso... eu gosto de você, muito... mas.... não sei...

120Km/h

"...rimas fáceis, calafrios, fura o dedo faz um pacto comigo, num segundo teu no meu, por um segundo mais feliz..."

Um baque ensurdecedor. Uma dor lancinante atravessou seu tórax no lado esquerdo do corpo. Estava sendo arremessado para o outro lado quando uma parada repentina o fez voltar. Um poste. Bateu com a cabeça no volante. Tudo girava em sua cabeça.

"...O nosso amora não vai parar de rolar.." - não sei, estou confuso - "... como uma pedra que divide o rio.." - não sei, não sei - "... me diga coisas bonitas.."

Chorava ainda mais, seu rosto estava quente, sentia gosto de sangue na boca. Alguém chorava lá fora, perguntaram se ele estava bem. Gritos. Chorava. O sorriso. O via em sua mente. Sentiu medo. O veria novamente? Amava aquele sorriso, amava o dono do sorriso. Viu sua mãe, pai, Tito, Ton, Caio, Guto, Mama, Tuca... 'Cal'. Queria sentir o beijo de novo. Queria sentir o calor de seu corpo de novo. Sua perna doía. Se sentia fraco. A visão estava falhando, o peito doía...

"... rimas fáceis, calafrios, fura o dedo faz um pacto comigo...
...um... segundo teu... no meu... por um segundo... mais...

Entoou fracamente a canção chorando. Chorava muito, não queria estar ali. Dor. Seu peito doía, seu coração doía. Seus olhos pesaram. Sorriu. Não sabia o que aconteceria agora. Estava muito triste, mas queria estar sorrindo quando Carlos o visse.


Hugo Zanardi

Um comentário:

  1. AMIGOOOO, adorei!
    Muito comovente!
    Você escreve muito bem, laça agente, prende.
    Abraços

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