6.24.2009

Encontro inesperado


Carlos estava tendo uma quinta feira muito intensa, muitas provas na faculdade e pra ajudar o motoboy da empresa se envolveu num acidente logo cedo, sendo o mais jovem do escritório acabava sendo escalado para fazer os trabalhos na rua, banco e afins. Aproveitava para estudar o máximo que podia, fosse na fila do banco, no ônibus ou no mêtro, em pé, sentado não importava. Parecia ter o dom de ler andando, andando e lendo, é preciso muita aptidão para trabalhar, estudar e não enlouquecer.

Porque não escolheu gastronomia, ou enfermagem como sugeriram os pais. Contabilidade! Onde estava com a cabeça quando assinalou essa opção? Tantas contas, números, sobe, desce, sobra um, noves fora... Mas era o melhor de sua classe, só o Thiago e a Amanda tiravam notas melhores que as suas, porém eles não trabalhavam, era obrigação passarem o dia todo estudando e serem ótimos alunos.

Estação Sé. Transferência da linha vermelha para linha azul, 14 horas, movimento regular. Lia um estudo sobre estatística, cabeça baixa mas atento ao redor. Algumas pastas na mão, a apostila de estudos e mais dois livros. Uma dor no ombro esquerdo, perdeu o equilíbrio, os papéis todos foram ao chão:

Puta que pariu! Porra meu você não olha pra onde anda não cara??

Ai, ai, me desculpa, perdão mesmo, eu... foi sem querer, foi mal aí...

Alguns livros e papéis se misturaram aos seus, um outro rapaz abaixava-se par pegar os papéis, o óculos escuro foi ao chão, estava meio atordoado, pegava até coisas que pertenciam a Carlos, pôs a mão sobre um livro. Carlos pegou no mesmo instante. Suas mãos se tocaram e o rapaz olhou para Carlos. Nunca havia visto olhos tão bonitos em toda sua vida, pensava que só os modelos tinham olhos tão perfeitos. Foi um olhar meio de lado apenas para confirmar que aquele livro não o pertencia. Carlos sorriu. Sentiu que o rapaz corava.

Puxa cara desculpa mesmo mesmo, estou super atrasado pra uma reunião, perdão... é... desculpa... tipo... falou aí... até mais... tchau...

O rapaz desceu as escadas correndo, como se fosse perder o último avião, no fim da escada ele olhou para trás e por mais que Carlos não quisesse acreditar havia olhado para ele. Aqueles olhos profundos encontraram com o seu. O rapaz virou, pos o óculos e entrou no vagão do mêtro, seguiu sentido Jabaquara. Carlos entrou no mêtro seguinte. Sentou-se e começou a arrumar seus papéis, ver se estava tudo em ordem. Sim, tudo ok, a não ser pelo fato daquilo. O que seria exatamente?

Uma encadernação preta com um sintético a exemplo de couro. Uma agenda. O rapaz dos olhos claros. Deve ter esquecido de pegar, ou se confundiram... ou.. ele disse 'até mais'... será que? Não pode ser. Muitos pensamentos passavam pela cabeça da Carlos, que agora parecia ter esquecido dos estudos, pensava apenas naqueles lindos olhos.

Carlos é homossexual sim, não tem trejeitos, e teve poucas relações com outros homens. Sentiu algo de estranho por aquele rapaz. O modo como o olhou, o fato de ter olhado pra trás, o leve sorriso que tinha no rosto apesar do embaraço causado pelos palavrões expelidos por Carlos após a trombada. Precisava saber a importância daquela agenda. Se deveria devolve-la, certamente haveria um número anotado. Abriu na página em que estava o marcador.

"14h30 - reunião St. Cruz
16h - piano
18h - pegar Augusto na escola
ligo ou não ligo"

A letra não era muito bonita, e as coisas vagavam pela página como se nela não houvessem linhas. Percebeu um vão entre páginas e verificou o que havia. Uma foto. Um rapaz, óculos escuros, regata branca, foto à noite. Não era o rapaz que encontrara, parecia mais forte e mais velho. nenhuma anotação na foto, nem na página. Poderia ser qualquer pessoa, o irmão, um primo, o melhor amigo, o vizinho ou até mesmo... o namorado! Loucura. O cara não tinha a menor pinta de gay... ou tinha?

Folheou mais umas duas ou três páginas e viu diversos compromissos anotados, reuniões, aulas, horários. Parecia ser algo vital. Fechou. Pensou por um instante. Abriu na página principal, um telefone celular e um residencial, sem endereço apenas o nome:

Bruno.



Hugo Zanardi

Um comentário:

  1. Oie ...
    Ah o inicio ....
    o que seria de toda um desenrolar, se naum tivesse tido um inicio assim, ... digamos um tanto inesperado ... e é como dizem, um encontro desses fica gravado pra sempre rs ....

    amei o post,
    parabéns,

    já me tornei uma leitora assídua

    bjins

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