6.03.2009

Sozinho na cama.


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O motor roncou alto e o Kadett azul partiu veloz. Carlos o viu fazer a curva e rapidamente sumir de vista, ficou ali paralisado na rua sem sabe o que fazer, ou o que acabara de fazer. Entrou em casa e foi direto para seu quarto. Entrou devagar, sentou-se na cama e descansou o rosto nas mãos apoiadas na perna. Olhou para o celular sobre a cômoda. Deveria ligar? Não podia, não tinha coragem.

Carlos ligou o rádio relógio e deitou-se na cama apreciando o teto parcialmente escuro, uma luz singela que vinha da rua atravessava a janela aberta e lhe dava alguma visibilidade do teto, frio, vazio. O que faria de agora em diante? Será que havia feito o melhor?

Depois de tanto tempo juntos porque estou com essa dúvidas? Eu amo tanto ele meu Deus, será que é errado amar alguém? Ai Deus, ele ficou tão abalado, o que eu faço? Mas está tudo tão complicado... ai cacete, pior é que agora eu já falei com ele... que confusão na minha cabeça...

"... O nosso amor não vai parar de rolar, de fingir e seguir como um rio,como uma pedra que divide o rio, me diga coisas bonitas

Adoro essa música
- Cantou baixinho prestando mais atenção que o normal as palavras que compunham a letra da música.

"...o nosso amor não vai olhar para trás, desencantar nem ser tema de livro, a vida inteira eu quis um verso simples pra transformar o que eu digo..."

Muitas imagens lhe invadiram a mente. A viagem para Ubatuba, o primeiro motel que foram, os almoços juntos. Adorava quando Bruno vinha almoçar com ele, sentia-se feliz com sua presença. Sempre que saía do escritório era recebido com um lindo sorriso, muitas vezes seguido de alguma piadinha, ou brincadeira pervertida que o fazia ficar encabulado. Sempre davam um jeito de se beijar. Amava beijar Bruno. Como o beijo era gostoso...

"...rimas fáceis, calafrios, fura o dedo faz um pacto comigo, num segundo teu no meu, por um segundo mais feliz..."

... o beijo era muito bom, sentia tudo naquele beijo, seus lábios eram quentes e diziam mais que qualquer palavra, o quanto o amava, era expressivo, caloroso, envolvente vinha acompanhado de mãos fortes que percorriam seu corpo, que o tocavam de um modo nunca antes tocado, seus dedos pareciam expelir desejo, seu toque era macio, mas também era firme, ou suave, mas sempre carinhoso...

...o nosso amor não vai olhar para trás, desencantar nem ser tema de livro, a vida inteira eu quis um verso simples pra transformar o que eu digo - Cantou junto, baixinho. Pensante.

... a vida inteira eu quis um verso simples... - Pensou. Um verso simples. Quantas vezes já havia escutado um verso simple de Bruno. Três palavras apenas. Ainda sentia que algo estava distante neles, não sabia, talvez o trabalho, talvez a relação com a família de Bruno, ou pior.... talvez... Bruno. Seria possível o amor acabar? Será que esse tempo significava que o amor por Bruno estava deixando de existir em seu peito? Os olhos marejaram...

"...rimas fáceis, calafrios, fura o dedo faz um pacto comigo, num segundo teu no meu, por um segundo..." ... mais... feliz?

Uma lágrima escorreu pela face, as palavras finais lhe cortaram o coração, sentiu uma sensação estranha, como se um medo repentino o invadisse...

"... Nova Brasil FM, a moderna música brasileira. Paralamas do Sucesso 'Quase um Segundo'..."

O primeiro acorde da música fez o medo aumentar em seu peito, não entendia. Um segundo atrás não o queria, agora estava apreenssivo, sentia sua falta, continuava fitando o teto escuro que agora havia se tornado uma tela de cinema particular onde ele via todo que passaram juntos...

"... será que você ainda pensa em mim? Será que você... ainda pensa?... Ás vezes te odeio por quase um segundo, depois te amo mais..."

Sempre o amava mais e a cada segundo mais. Mas sua decisão estava tomada, precisava apenas de um tempo para saber como resolver tudo sem magoar seu amado. Embalado pela voz de Hebert Vianna adormeceu, com a roupa que estava, pensando em Bruno.

Acordou assustado com o celular tocando insistentemente. 'Bruno casa' apareceu no visor. Deveria atender? De acordo com o rádio relógio havia dormido 40 minutos. Bruno já havia chegado, deveria estar nervoso, ou iria apenas avisar que chegara bem Exitou.

Alô. Oi Bruno!

Oi Carlos, aqui é o pai do Bruno.

Sr. Nildo. Tudo bem? O que houve, porque o sr. está me ligando uma hora dessas? Está tudo bem?...

Calma Carlos... é... o Bruno... bem, ele...

O que houve sr. Nildo?

O Bruno sofreu um acidente agora à noite e está no hospital da Clínicas, na UTI. Achei que você precisava saber!



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Hugo Zanardi

3 comentários:

  1. Ai! Tô com frio na barriga para saber o que vai acontecer.
    Não demora de atualizar não. Por Favor!

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  2. nossa ...
    grande conto ...
    ou será sonho ...
    ou kem sabe pesadelo?

    p.s: vou colocar seu blog em meus favoritos

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  3. Só quarta que vem Estampado, é semanal, respira fundo...

    É Seriam, nem tudo na vida desses dois são flores...

    A coisa ficou tensa agora neh?!

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